Eu sonho; tu sonhas; ele sonha. Mas a questão aqui é se ELA sonha. Ou melhor, com o que as mulheres têm sonhado?

Sei que não é novidade nenhuma falar dos sonhos da mulher atual. Mas julgo necessário nos questionar a respeito dos desejos que o mundo tem nos imposto. Falo isso porque, enquanto representante do gênero, não me identifico com esse modelo estéril de mulher recipiente que tenho visto por ai. Não me considere a própria mulher alfa, mas estou cansada de ler e ouvir matérias que falam de dicas de relacionamento, beleza plástica, roupas e acessórios, cabelo, maternidade e trabalho... Enfim, assuntos que nos interessam de certo modo, mas nos reduz a pouco. Tudo muito boring! Se pararmos um minuto para pensar no que todas essas imagens nos dizem, logo concluímos que a única forma de ser feliz é ser linda, rica, casada e mãe, porque, do contrário, vai ser uma perdedora.
Sabemos que todas nós temos certo grau de loucura que nos é bem particular. Mas essas imagens que a mídia vem produzindo, tem nos deixado mais loucas ainda. Afinal, quem dá conta de tanto sonho para comprar? É o sonho do homem ideal, do sucesso profissional, familiar, do corpo incrível, do cabelo incrível e da performance sexual perfeita. Muita coisa para um bichinho histérico por natureza. Quero deixar claro que a questão não é a falta de capacidade, mas é que somos abrigadas a responder a um grau de exigência enorme para realizarmos esses ditos sonhos ou mesmo para fazer alguém sonhar com a gente. Digo isso porque esse ideal de mulher magra, alta, de peito e bunda grande e cabelo liso, tem produzido monstros acéfalos. A demanda pela cirurgia plástica é tão grande que tem feito com que apareçam verdadeiros “Drs. Franksteins” da medicina estética. Sintoma: conte quantas páginas algumas revistas femininas dedicam à estética, programas de TV são feitos tratando desse assunto.
O mercado editorial também tem contribuído para o aumento no número de consumidoras de antidepressivos. Aliás, eles devem ser “sócios” da indústria farmacêutica. Para constatar basta entrar em uma livraria e logo deparar com títulos como :”Ele simplesmente não está afim de você”. Mas o que mais me chamou atenção foi: “Ávida sexual de uma mulher feia”, cuja capa mostra uma mulher segurado um travesseiro no rosto. Ou seja, uma sugestão bem “fofa” e inteligente para o homem consiga comer uma mocréia qualquer achando que esta fazendo um enorme favor a humanidade! Triste!
Sexo é o assunto muito interessante nas revistas direcionadas ao público feminino. “204 maneiras de enlouquecer um homem na cama”, ou “10 posições para apimentar a hora H” são temas recorrentes nas capas. Tive o desprazer de ler uma matéria dessas que ensinava como praticar o sexo oral da melhor forma, através da comparação do pênis com o picolé, o que pode ser lifo também como chupe até se lambuzar. Moralismos à partye, todo mundo adora fazer e falar de sexo, mas esse tipo de abordagem ajuda a mulher a melhorar sua vida sexual. MUITO PELO CONTRÁRIO!
Para mim, a maluca que seguir esses conselhos ao pé da letra vai é espantar o coitado do parceiro, que já não foi fácil conseguir.
Querida, você não precisa ser uma puta para trepar bem!
E o tão conhecido e praticado casual sex, meu bem? É aquilo que poderíamos chamar de “sexo razoável para casos de emergência”. Seria ele resultado da liberação sexual ou da solidão generalizada? A maioria das mulheres que o praticam, acaba se envolvendo de alguma forma. Se, por parte, o sexo for bom, aí ela vai passar o dia seguinte colada ao telefone esperando ele ligar, ou então, em um momento de total desespero alimentado pela perversão das amigas, ela tem o impulso de ligar para o bonito. Afinal, somos mulheres de atitude; e os tempo são outros; os homens mudaram, bla bla bla... Tudo isso para dizer que hoje ´mundo é “moderno”. Do outro lado da linha vai estar aquele ser apático, respondendo com uma negativa furada. Geralmente ultilizando-se da famigerada desculpa da falta de tempo ou do compromisso inesperado, que, embalado por um tom de voz que exala um desânimo aterrador, nos fará sofrer. Mas o que é realmente horrível é quando ela, no auge de sua carência e com alguma bebida na cabeça, sai com alguém, se arrepende no meio do ato e não vê a hora em que aquilo tudo termine, sabendo que vai ter que trabalhar muito bem a situação na sua cabecinha para agüentar um day after pesadíssimo. Somado a tudo isso, a relação qualidade/quantidade de homens disponíveis também complica nossa situação.
Ninguém está imune ao poder dessa imagem de mulher que aparece poderosa, feliz, magra e sozinha, corporificada num mix de estereótipos, no qual a pobre menina rica, que vive nos contos de fada como princesa, ainda espera seu príncipe, mesmo já tendo passado dos trinta. Mas enquanto ele não vem, ela leva uma vida sexual como a famosa heroína ninfomaníaca Barbarella. Alguns podem julgar ultrapassada a referência ao modelo de mulher-objeto protagonizado por JANE Fonda em um filme de 1968. Poderia ter usado aqui vários outros modelos clássicos do feminino, mas acredito que, tanto este como muitos outros que viveram na seqüência, fazem parte do mosaico imaginário que constitui a mulher que hoje conhecemos.
Como tudo que tem dois pesos e duas medidas, pretendo ai apenas sugerir um olhar mais crítico antes de assumir como nossos objetos de desejo dos sonhos de consumo criados pelo “outro”. Porém, colocando um pouco mais de cor-de-rosa nas palavras, posso me arriscar a dizer que o grande sonho de uma mulher é simples: é
o de ser amada. Mas, como hoje o amor é artigo de luxo, homens e mulheres acabam sozinhos comprando e consumindo estereótipos que compensem essa falta. Por fim, para definir melhor o que quis dizer com essa falta, procurei um clichê do qual a vida é feita para expressar tudo isso. Fecho com os Beattles: All we need is love!

Emília Felippe.

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