Memórias de um Abacaxi (parte 1)

- Não falar, quando se deve, é uma mensagem.
Era uma tarde quente e o mar lindo do outro lado da rua nos chamava. A areia brilhava forte, como se dissese: tenho um segrego gostoso para lhe contar. - Vem! Disse a areia.
Foi esse segredo gostoso que me levou a praia, ao mar ao sol. Brinquei como uma tartaruga marinha na água. Os gatinhos ao redor olhavam com medo dessa criatura marinha branca não identificada. Quando se está de bem com a vida, quem liga né?
Dani foi a praia comigo, e por mais que eu falasse tão quanto chupava meus saudáveis picolés de côco com abóbora, maçã com couve ou qualquer outra coisa metida a naturéba, conseguia avistar aqueles objetos voadores coloridos gigantes chamados parapente.
Preciso confessar que rapidamente meu hipotálamo colocou sua principal função em ação e despertou momentos doces em que estive no ar. Começou com um homem chamado Pedro, um famoso instrutor de parapente da pequena cidade, que passou um dia com seu grande corpo por mim. Eu, verdadeiramente senti aquela presença masculina suave, ah eu senti.
Senti mais coisas com tempo, nos conhecemos e começamos a sair, essas coisas de seres humanos e seus feromônios, suas testosteronas... um pouco de química, bom humor e lealdade. Essa foi a receita utilizada, o resultado seria uma troca de experiência e sentimento. Claro, sentimento feminino é sempre resumido a aquela incrível ansiedade de ver a pessoa a todo momento, perguntar como foi seu dia a cada meia hora. Bom, acredito que fingi bem ser difícil e pouco interessada. Estava indo embora do estado e precisava levar meu coração com as malas.
Em seguida, meu hipotálamo parou de focar nas lembranças e voltou às suas funções vicerais, tais como absorver a clorofila do picolé de couve com maçã. Logo mais eu precisaria dessa clorofila para me transformar em planta.
Sai do mar e fui para a areia e ela me contou um segredo: - Querido ser humano pesado que desfruta da minha maciez para expor o corpo ao sol, por favor, venha passear!
- Ok areia, eu disse. - Você venceu, completei. E eu intuitivamente fui levada pelo calçadão numa conversa predominantemente feminina em que a Dani relatava sobre o término com o ex, Igor. Honestamente, naquelas palavras ouvidas eu tinha vontade, melhor, tinha ira. O ex namorado da minha amiga foi burro, pobre coitado. Não estou julgando, afinal, julgar é sempre um erro. Bom, destilar um pouco de veneno para proteção da amiga é válido em um mundo envolto por saias, saltos, batom e tudo que nós mulheres temos de direito.
Seguindo a caminhada, o longínquo e eterno calçadão se manifestava como passarela de talentos. Uns passavam empinando patinets, outras empinando o bumbum ou nariz. Outros faziam malabarismo, corrida, bicicletas ultra modernas com roda de aro de liga leve, banco macio feito a base do primeiro barril de petróleo Tupi, recentemente descoberto pela Petrobrás no projeto Pré-Sal e outros apenas desciam de parapente do morro chamado Morro do Moreno logo ao fim da praia.
Foi quase nesse momento que eu precisava que a tal clorofila se manifestasse completamente no meu organismo.
Ouvi uma voz rouca feminina: - Ok, isso ai pessoal, agora dobra ai.
Não tenho certeza exata das palavras, mas foram essa mensagem que me transmitiram. Logo um rosto bonito, bem desenhado vira para mim e solta um sorriso.
Acredito ter conseguido retribuir o sorriso, não sei o que aconteceu naquele momento. Minha boca soltou algo como, - Meu Deus Dani, é a namorada dele, ela sorriu.
- O que foi, o que está acontecendo? Como é que...
Enquanto a Daniela falava alguma coisa e três passos após o sorriso irradiante, o que qualquer mulher soltaria estando naquele lugar, eu vi um corpo grande.
- Aquele corpo grande!
Não me lembro o que Dani dizia. Mentira, eu não entendia.
Era ele, o homem grande e voador. Um instante que passou como um tempo maior, sem condições de determinar quanto. A suave brisa me tocou como furacão e nessa confusão clara eu passei sem dizer nada. Não foi exatamente assim, mas aqui dentro foi bem assim. Não me esqueci disso. Da brincalhona e descontraída eu virei uma tímida adolescente estúpida. Na verdade eu deveria ter bancado uma atriz, sim. Talvez pudesse ser a simpática Carrye do Sex in the City ou a romântica e meiga, Amélie Poulain, mas não... o espírito de adolescente era o mais barato que pude comprar com minha pressa e a máscara de sem equilíbrio foi o que meu braço longo e completamente reduzido naquele instante, alcançou.
Como sempre diz minha mãe, “a gente aprende minha filha”.
O assim continuei a caminhada. Essa foi minha escolha a um tempo atrás, um tempinho. É talvez a muito tempo. Foi de novo!
Sem dar oi, sem olhar para ele. Sem nada!
- Não falar, quando se deve, é uma mensagem.

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