sempre, não do mesmo jeito.

Um dia você acorda e está tudo lá, junto com ela.
Estão os chinelos ao lado da cama o esperando para serem calçados. Está a pia com a escova de dentes, o vaso, o chuveiro.
A toalha, o silêncio da manhã e o cheiro do corpo quente. Está o claro do sol atrás da cortina e as marcas da experiência no rosto.
O brilho dos olhos também, embora tenha mudado ao longo dos anos, mas nada notável nos últimos instantes, por que ela, o distrai.
O café da manhã rápido e o som das primeiras manifestações humanas na rua. O macio do banco do carro, a rádio sintonizada a algum tempo... Talvez tempo o bastante para você não lembrar quando foi a última vez que mudou de estação.
O mesmo caminho até a empresa, o caminho seguro e confiável.
Esse caminho o leva a razão de até então: o emprego estável. A entrada da empresa, os desvios dos passos até sua mesa, o aparelho telefônico em frente, que está ficando ultrapassado pelo tempo e os novos modelos. O cheiro do café forte rondando sua sala de trabalho e lá está ela. De olho em você, em cada movimento, o observando, testando, avaliando sua capacidade de superação. Ela não estimula seus impulsos, ela gosta de normalidade, gosta de segurança. Ela é medrosa, não sabe sonhar e gosta de tê-lo preso junto a falta de curiosidade do tentar, silenciando desejos ímpetos.
Tic tac, almoço.
Tic tac, tarde de trabalho.
Tic tac, caminho seguro de volta para casa.
A mesma rádio, o mesmo banco macio do carro.
A vida continua.
O elevador e o velho frio na barriga ao párar no seu andar, a cor da porta do apartamento e em seguida as chaves sendo jogadas na mesinha de centro em frente a seu confortável sofá da sua bela sala decorada pelo improviso ou pelo bom gosto, não importa, é a SUA sala.
Um bom lanche, futebol ou novela na televisão e a sensação de enfim, tudo bem.
Nesses momentos mágicos e esperados, lá está ela, ao seu lado, compartilhando o prazer do tranquilo instante previsível.
É um pacto, você lhe entrega seus dias e ela lhe dá a segurança do próximo.
E eles vão passando, os dias, os detalhes. Os sonhos e as vontades passão também, a menos que você a dê férias.
Mas a rotina não gosta de férias, ela quer tudo do mesmo jeito, sempre.

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